segunda-feira, 18 de agosto de 2008

MARCO SITUACIONAL
“As raízes da utopia consistem no fato de que o homem ainda não é um ser satisfeito, porque ainda não é perfeito, porque o mundo ainda não é acabado. O homem e o mundo pertencem ao “ainda não”. Conforme E.Bloch, não devemos, no entanto, pensar que este “ainda não” implica que nunca será. Tal nos levaria ao desespero niilista. Ao contrário. Temos a esperança poderosa de que “ainda não” poderá ser um dia”.
Pierre Furter
O mundo em que vivemos especialmente os países capitalistas apresenta aspectos sociais preocupantes gerados pelo sistema político e de produção. Podemos dizer que impera a desumanização, a apologia à violência, o individualismo exacerbado, frutos de um sistema produtivo selvagem que direta ou indiretamente alimenta a corrupção e a força do poder paralelo. Apesar de avanços no campo do discurso e de ações solidárias realizados por ONG`s e movimentos sociais, ainda há muito que avançar. A violência se alastra de tal forma e na mesma proporção que a necessidade das pessoas se ajudarem e se auto-ajudar. Nesse contexto, “a corda arrebenta no lado mais fraco”. Esse dito popular lembra a exploração de menores no trabalho e na prostituição. Embora existam programas sociais voltados para a causa das crianças e adolescentes, é notório o número de crianças abandonadas pelas ruas, vítimas de violência de todo tipo, inclusive familiar.
Se refletirmos com cuidado, observaremos emergindo na sociedade mundial, novos modelos familiares, paralelo a isso, a luta pela igualdade e pela não discriminação. Os papéis antes tão bem definidos dentro da família tradicional, hoje se desconfiguram na luta por melhores empregos, melhores salários, melhores empreendimentos, tornando o lar uma breve pousada desenhado numa agenda de compromisso para pais e filhos, com jornada ampliada de toda a família. No Brasil, baixos salários forçam essa jornada estressante, reduzindo o contato físico e consequentemente emocional entre pais e filhos, entre pais e escola, tornando a todos órfãos de um mesmo sistema. Essas são questões que influenciam diretamente na qualidade de vida das pessoas fragilizando-as, gerando estafa, estress, somatizando doenças, em conseqüência da falta de tempo e/ou falta de recursos para acompanhamento e tratamento médico. Atrelado a essa situação constatamos que o sistema de saúde eficiente, embora exista, ainda é privilégio de uma minoria da população e está na pauta de luta dos movimentos e sindicatos. È bem verdade que em algumas metrópoles do Brasil há avanços no que diz respeito a iniciativas de baratear os custos com medicamentos para a população oferecendo acesso a opção de genéricos e farmácias populares. Há também novos Programas de prevenção e distribuição de material preventivo de doenças infecto contagiosa, mas o atendimento popular ambulatorial e cirúrgico obedece a longas filas de espera, falta de leitos e de especialistas.
Por outro lado, é importante sinalizar que a saúde da sociedade não se restringe apenas ao aspecto físico, o aspecto cultural e moral também enfrenta debilidades. Não é saudável para toda e qualquer sociedade a discriminação de raça ou credo ou de qualquer outro tipo. Relações discriminatórias contribuem mundo afora para formar grupos isolados estimulando a violência, mesmo que simbólica (esta é a que alimenta todo tipo de mazela social).

Negros, religiosos, população das periferias, por muitos anos têm sido vítimas de atitudes discriminatórias colocando-os a margem da sociedade privando-os de melhores benefícios e da justiça social. A reação se reflete nos grupos que se formam em torno da identificação e interesse e que vão ganhando espaço e voz na mídia ao mesmo tempo em que geram reações conflituosas na corrida pelo poder. Não podemos ignorar que durante muito tempo, e ainda hoje, a violência e o desrespeito a esses grupos tornaram-se um sério problema para as sociedades do mundo todo. Em contra partida, bem perto de nós podemos verificar nos movimentos de emancipação, um grupo cada vez maior dos vários segmentos da sociedade que se unem na luta pela não discriminação. Podemos citar como exemplo de conquista a inclusão na legislação Brasileira, nos currículos escolares do resgate de cultura negra e questões relacionadas à saúde e segurança da criança e do adolescente.
Todo esse contexto de reestruturação social termina obviamente e inevitavelmente refletindo na escola que recebe crianças de modelos diferentes de família; jovens que aprenderam autogerir seu tempo com uma agenda de responsabilidades familiares ou de ampliação de seus estudos ou trabalho; jovens que buscam preparar-se para o mercado educacional e/ou o mercado de trabalho e adultos que precisam estar em dia com as exigências educacionais do mercado de trabalho. Diante dessas prerrogativas percebemos uma escola que se depara com expectativas e perspectivas diferentes e também com o empobrecimento ou falta de perspectivas futuras daqueles que são conduzidos até ela por exigência da família. Há ainda aqueles que, fugindo da influência do poder paralelo nas proximidades de sua residência, optam por estudar mais distante procurando segurança e a efetivação dos dias letivos. Essa mesma escola também se depara com novas exigências, novas orientações curriculares, o enfrentamento de avaliações externas diagnosticando e pondo em cheque sua eficiência e ainda, um bombardeio de questões sociais que afloram num movimento acelerado e que são incorporadas em seu currículo, a título de educar para a cidadania, posicionando-a como o principal veículo de conscientização social.
Além disso, a escola está diante de um mundo ameaçado por bolsões de miséria, pelos resíduos e pela destruição promovida por formas de produção e de consumo (a rarefação da água potável, efeito estufa e os lixões em terra e em mar...). A palavra de ordem passa a ser “Interdependência”: dos países mais desenvolvidos por meio de mercados de matérias-primas e também de deslocamentos de atividade; das atividades científicas e tecnológicas, cada vez mais acentuada pela lógica da competição pelos novos produtos e pelas novas tecnologias; das escolhas ecológicas cujos danos são mais sentidos nos países menos desenvolvidos; das evoluções culturais e políticas divulgadas em ritmo acelerado através dos meios de comunicação.
A pergunta que a escola precisa responder é: Qual seria então a filosofia de trabalho adequada para embasar o trabalho da escola para essa sociedade multifacetada que precisa garantir os princípios de humanidade e cientificidade aliados à sobrevivência mundial?

Um comentário:

Prof> Herivelton disse...

òtimo texto! profundo, bom para aguçarmos os sentidos e observarmos a realidade que o "leviatâ" do sistema capitalista nos impõe. No entanto, posso perceber que o conjunto dos funcionários do ciep 252 nadam contra a maré e tentam construir um modelo social diferente. mais justo e mais solidário. parabéns pelo blog